POR QUE A CG É A MOTO MAIS VENDIDA DO BRASIL?

Fernando R. F. de Lima.
Esta é uma pergunta que certamente intriga muita gente: porque a CG, seja a 150 ou a 125, que somadas representam grande parte do mercado brasileiro de motos, vendem tanto? O que elas tem que a concorrência não tem? Para se ter uma ideia, nos dois primeiros meses de 2012 foram vendidas 276.881 motos. Destas 22,7% eram CG 150 e 19,7% CG 125. Se incluirmos na conta a Bros 150 (que usa o mesmo motor, mas é Trail), são mais 11,4%, totalizando 53,8% das motos do país. Mais da metade das motos comercializadas são três produtos. Na verdade, as diferenças entre uma CG 150 e uma CG 125 são quase tão grandes quanto aquelas existentes entre um Gol 1.0 e um Gol 1.6. Tirando da conta a Broz, ainda assim 42,4% das motos emplacadas são CG, o que é algo que só teve paralelo no Brasil nos tempos áureos do Fusca.


A primeira explicação, e mais óbvia, poderia estar no preço: as motos Honda são mais baratas que a concorrência. Seria uma explicação plausível, mas é falsa. As CG 125 e 150 são mais caras que todas as suas concorrentes diretas. Apesar da maior escala de produção, da maior rede de concessionários e da maior oferta no mercado de usadas, as CG’s ainda assim são mais caras que das YBR da Yamaha, que a Yes da Suzuki e que as diversas chinesas e sino-brasileiras que proliferam por aí. Se não é o preço, será a qualidade?
É difícil negar que as CG’s são melhores que as Suzuki Intruder e Yes. Estas motos são uma vergonha mesmo. Acabamento ridículo, motor fraco e gastador, aparência antiquada. Poderia ficar o resto da tarde falando mal as motos do grupo JToledo, que são chinesas disfarçadas de japonesas. Em relação aos produtos da Dafra, o que lhes falta ainda é credibilidade. A recém lançada Riva parece um produto promissor, mas seu motor 150cm³ tem desempenho apenas equivalente ao 125 cm³ da Honda e da Yamaha. Nisso todas as motos da Dafra perdem feio. A Kasinski pretende ser uma moto séria, mas nesta categoria não possui nenhum produto que mereça ser considerado.
Resta, portanto a YBR. Será que a YBR é pior que a CG? Na verdade não é. É mais macia, mais econômica e tem menor índice de vibração do motor, o que a torna mais confortável. Em termos de qualidade, a Yamaha é tão boa quanto a Honda, com suas particularidades, como a chave liga/desliga para o farol, ausente na concorrente, que pode inclusive levar os mais desatentos a levar uma multa. No entanto, apesar de ser um pouco mais barata e ter tantas qualidades quanto a CG, a Yamaha ainda assim vende menos.
Acredito que a Honda vende tanto destes produtos por uma simples razão: ela é a única marca de motos que consegue atender a demanda do mercado em qualquer lugar do país, seja por motos, seja por peças. Além de ter uma massiva rede de concessionários, a Honda possui um dos mais (se não mais) organizado sistema de consórcios do país. Qualquer lojista que trabalhe com a Honda consegue oferecer aos seus clientes um produto de qualidade com uma boa margem de lucro, o que impede que a concorrência seja fratricida, mesmo nas grandes praças.
Deste modo, à Yamaha e as demais fabricantes restam apenas as bordas do mercado. Tem algumas praças em que a Yamaha pode chegar a incomodar a Honda, mas no geral, é difícil a concorrência. De certa forma, atualmente praticamente tudo que é produzido de motos no Brasil é vendido. As fábricas operam com a capacidade próxima do limite. Por outro lado, como a Honda é uma virtual monopolista, ela acaba desestimulando grandes investimentos neste segmento que compõem a base do mercado.
A Yamaha poderia ampliar sua fabricação de motocicletas e reduzir suas margens para tentar roubar mercado da Honda. Contudo, a Honda poderia reagir reduzindo seus preços, o que criaria dificuldades para a Yamaha, tendo em vista que, em função da escala, a Honda tem maior margem para poder baixar preços que quaisquer de seus concorrentes. Por isso as demais fábricas se concentram em mercados em que o domínio da Honda não é tão grande, como é o caso das esportivas, das Custom, das Trail e das Nakeds de média cilindrada, além das motos de grande cilindrada, obviamente.
Para ilustrar, no ano de 2011 a CG foi líder absoluta de vendas entre as motos pequenas, abocanhando 68% do mercado. Incluindo a NXR 150 (Broz), chega-se a 83,8% do total. A Yamaha, com a linha YBR/XTZ 125 conseguiu apenas 11% do mercado, o que é uma fatia respeitável, diga-se de passagem, comparando com o mercado de automóveis, por exemplo (tabela 1). Portanto, em número de veículos emplacados, a Honda abre uma vantagem tão grande sobre as demais marcas que é possível dizer que, somente se você não quiser comprar um Honda você não comprará. O fato de ter tamanha escala, permite que os revendedores Honda tenham polpudas comissões, o que serve de desestímulo ainda maior para que mais concessionários de outras marcas abram lojas, sobretudo no interior do país.

Deste modo, a Honda criou uma vantagem que vai se perpetuando e que dificilmente será rompida em algum momento. Obviamente, a medida que o mercado brasileiro for amadurecendo, e as motos pequenas passem a representar fatias menores, pode ser que a Honda seja incomodada por outras marcas no país. De fato, nota-se que no segundo degrau da escala motociclística, as 250 cm³, o predomínio da Honda é muito grande (65,9%), mas ainda assim menor que o alcançado entre as pequenas.
À medida que subimos na cadeia alimentar das duas rodas, a vantagem da Honda vai gradativamente desaparecendo: entre as custom, apesar da Shadow ser a mais vendida, com 19% do mercado, ela está quase empatada com a MidnightStar da Yamaha, que ficou com 18,8%. Além disso, se somarmos os modelos da Harley Davidson, que oferece muito mais variedade, a HD fica com 46,4% do mercado, sobrando o restante para a Suzuki. Nada mal, a propósito, para uma marca que tem menos de 10 concessionárias no país.
Outro segmento que já foi amplamente dominado pela Honda também está muito mais diversificado: as Trail de média e grande cilindrada. O recente lançamento da Transalp Xl 700 V, depois de sua longa ausência no país, fez a Honda recuperar parte deste mercado que estava praticamente perdido desde a saída da Falcon; mesmo assim, em 2011 ela ficou com apenas 17,2% das venda, sendo que a Yamaha foi a campeã com 21,4% com as vendas da XT 660, seguida da BMW G 650, que conta com uma rede muito reduzida de revendedores, não cobrindo sequer todas as capitais. Deste modo, nota-se que a predominância da Honda no degrau de cima do mercado não é tão evidente.
Dentre as motos grandes, a Honda ainda reina sozinha nas Nakeds de grande cilindrada, graças à CB 600 Hornet e entre as esportivas, com a CBR 600 e 1000. Mesmo assim, sua hegemonia é ameaçada de vez em quando por conta das novidades neste segmento que ainda conta com a característica de não ser muito fiel nas suas trocas, uma vez que o legal é sempre experimentar novidades. Além disso, fatores como seguro extorsivo já afastam clientes da Hornet e das motos esportivas da Honda.
Finalizando, a CG é a moto mais vendida do Brasil por conta de três fatores: é a moto que se pode vender com a maior margem de lucro, por conta de sua escala de produção; pode atender toda a demanda, a qualquer momento do ano, em qualquer lugar do país, fruto, novamente, de sua escala de produção; apresenta qualidade e durabilidade acima da média do mercado e comparável apenas ao produto da Yamaha. Isso fruto da competência da Honda em tomar o mercado brasileiro, aproveitando os buracos deixados pela Yamaha, que ficou muitos anos sem um bom produto de 4 tempos para oferecer no Brasil, e quando o fez, já estava muito atrás da Honda.

Comentários

  1. A CG 150 titan é a melhor!!!

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  2. ÉRico - Ilha Solteira-SP19 de setembro de 2013 às 21:17

    Olá, Fernando, parabéns pelo artigo. Uma coisa que acho que faltou lembrar na explicação da supremacia da Honda sobre a Yamaha, ao menos no Brasil, é a fase "2 tempos" da Yamaha. Durante muitos anos, a Yamaha fabricava apenas motos 2 tempos que necessitavam adicionar óleo no tanque ou no reservatório sob pena de fundir o motor em caso de falta. As motos, embora muito superiores em termos de potência e velocidade, pecavam ao deixar "defumados" a roupa e os cabelos dos motociclistas, o que não era visto como empecilho para os fãs da potência e da fumaça (sem contar o barulho), mas que limitava muito o valor de revenda das "peidorreiras". Apesar de ter deixado há muito para trás a fase dois tempos, a Yamaha amarga ainda o preconceito de outras eras. E como valor de revenda é um ponto que pesa na escolha da marca neste segmento, a preferência pela maior rede de assistência, revenda mais fácil é como os brasileiros votarem mais nos partidos que elegem mais: um círculo vicioso difícil de ser quebrado...

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  3. É simplesmente assombrosa e assustadora a análise, nunca li algo tão concreto e tão condizente com a realidade, bem simples e explicado em poucas palavras porém extremamente esclarecedor. Sou um cara jovem que leio muito em revistas sobre motocicletas principalmente sobre as de baixa cilindrada (devido as minhas condições) pude andar em modelos de Honda e Yamaha e quando me perguntava porque a Honda vendia tanto sempre via a grande rede de lojas junto com o grande suporte de peças (mais baratas, e também paralelas) como fator principal para tantas vendas. Mais essa guerra comercial entre marcas e categorias de motos nunca havia imaginado, realmente sabia que a Honda trabalha com lucro estratosférico nas motos pequenas mais nunca imaginei que um ataque da Yamaha poderia ter consequências com um preço mais baixo da Honda assim aniquilando a ação. Muito interessante a análise, sobre a Suzuki, também sabia e fiquei decepcionado que as pequenas são todas chinesas, junto com a Dafra e Shineray este ano 2013, estão vendendo, mais ainda não chegam há um terço das vendas da YBR e agora com a chegada (antes tarde do que nunca) da Fazer 150, a situação de Suzuki, Dafra e Shineray tende a ficar muito pior, a Kasinski nem cito mais porque essa já está quebrada praticamente e não tem aparecido no ranking das 10 mais vendidas, a Comet 150 ficou pra trás e muito atrás. Analisando o texto podemos aplicar a mesma analogia na YES 125, é um produto inferior as irmãs GSR125 e150 (a yes125 com preço pouquíssimo mais barato) , porém tem parte das peças mais baratas e já se acha essas peças em muitos lugares, o erro da JAtolado e não nomear as GSR como novas Yes saiu muito caro. Ainda assim estão muito longe de CG e YBR as motos da Dafra ainda não dispõe de injeção eletrônica e na Suzuki só a 150 dispõe de tal recurso mais muito defasada esteticamente. Belo texto recomendo a muitos lerem

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    1. Obrigado pela resposta. Conto com vocês, leitores, para disseminar os meus textos pela internet. Abraços.

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  5. Eu sei porque a CG é a moto mais vendida no Brasil..
    Porque em um País miserável como o nosso, é uma motinha barata, baixa manutenção, moto de pobre.Motoboy, garçom, porteiro, ajudante de pedreiro, e verdadeira "condução de baiano".

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