MELHOR QUE A FÁBRICA?

Por Fernando R. F. de Lima.

É possível pegar um carro original de fábrica e deixá-lo ainda melhor a partir de algumas mudanças em suas características originais? Faço esta pergunta porque, em várias conversas com amigos, vejo que algumas pessoas têm restrições quanto ao uso de acessórios no carro, enquanto outros são verdadeiros entusiastas das modificações. No mundo das motos, principalmente, são inúmeras as pequenas alterações realizadas, que no caso das Custom chegam à descaracterização do produto. Mas e quanto ao resultado: fica melhor ou pior que o que a fábrica conseguiu?

Primeiramente, acho que devemos pensar em quais os objetivos da fábrica ao colocar o produto no mercado e quais os setores que estão em conflito dentro da montadora. Primeiramente, temos os departamentos de engenharia que, acredito eu, gostariam sempre de fazer o melhor possível com qualquer carro que seja. Se apenas os departamentos de engenharia contassem, um carro desenhado para ser econômico se pareceria com uma gota d’água, faria várias dezenas de quilômetros com um litro de combustível e nada pesaria. Por outro lado, um carro esporte seria muito parecido com um fórmula 1, mas ainda mais evoluído porque não teria que seguir as regras do campeonato. Ou seja, o carro seria sempre o “estado da arte” na produção de algo. Obviamente, isso teria implicações no custo.

Nas fábricas os departamentos de custos atuam para tornar o produto o mais lucrativo possível, recuperando o investimento em um prazo curto e mantendo o produto em linha por vários anos. Se apenas o departamento de custos fosse determinante, talvez ainda víssemos o Ford T numa concessionária, 0 km, pra ser vendido. Se não chegamos a tanto, não devemos nos esquecer dos VW Fusca e do Fiat Uno, carros com projetos muito longevos. Depois há o departamento de marketing, que quer fazer um produto que seja realmente apelativo para o consumidor e ainda o departamento de design, que trabalha para criar algo de acordo com a criatividade dos desenhistas.

O resultado de todas estas pressões são os carros que vemos no mercado. Do ponto de vista da engenharia, vemos que são todos muito parecidos, utilizando como regra quase geral motores e tração dianteira, com grande predominância dos quatro cilindros em linha e carroceria voltada para cinco ocupantes. As variações de tamanho também são relativamente pequenas, podendo enquadrar quase todos os carros num intervalo entre 3,70 m e 4,70 m de comprimento e de 1,65m a 1,90m de largura. Qualquer coisa fora disso torna-se carro de nicho, de pequeno volume.

A pressão por custos também faz com que as fábricas adotem soluções mais conservadoras e que procurem atender o grande público. Uma roda de liga leve é, por definição, mais leve que outra igual de aço. Geralmente também é mais bonita. Por isso, trocar a roda de aço de 14 polegadas do seu carro de R$ 30 mil por outra igual de liga leve trará pequenos benefícios e deixará seu carro um pouco melhor que o da fábrica. Do mesmo modo, utilizar um filtro de ar lavável, de longa durabilidade, será melhor que deixar o original de papelão no cofre do motor. Isolar as saídas de escape com uma fita que reduz a transmissão de calor também tornará o motor um pouco mais eficiente. Por aí vai. Quanto mais modificações você fizer, por produtos de melhor qualidade e mais leves, mais interessante seu carro irá ficar.

Ao invés de amortecedores padronizados utilizar alguns mais sofisticados por tornar o carro muito mais interessante. Molas especiais, freios especiais, volantes de melhor empunhadura, etc., todos acessórios que melhoram um pouco o carro, mas que no dia a dia podem fazer muita diferença para alguns. A questão é que nem sempre estas modificações são bem executadas, Ao invés de colocar uma roda de liga leve da mesma medida, coloca-se uma maior, que modifica a geometria da suspensão e torna o carro diferente do original (mais duro, mais lento).

Assim, a resposta final para a questão inicial é: é sim possível deixar o carro melhor que o original de fábrica. No entanto, isto coloca uma segunda questão: vale a pena? Do ponto de vista do custo, eu diria que não. De modo algum. A fábrica certamente chegou num ponto do custo benefício que o melhor para o consumidor. Já olhando para os resultados, o dinheiro investido na melhoria de um carro de R$ 30 mil talvez fosse melhor empregado na compra de um carro original de R$ 40 mil. E o gasto para melhor um de R$ 40 mil, num de R$ 50 mil. Ou seja, são tantas as opções no mercado, que equipar um carro com acessórios é geralmente um mau investimento.

A situação só muda de figura caso você já tenha o seu carro e vá permanecer com ele muito tempo. Aí, algumas modificações pequenas e baratas, facilmente reversíveis, podem tornar seu veículo mais agradável e mais voltado para o seu dia a dia. Ou ainda as modificações estéticas podem lhe proporcionar um prazer visual que é difícil de mensurar. Mas, de modo geral, podemos concluir que é relativamente fácil deixar um carro original melhor que o acerto conseguido pela fábrica.