SETEMBRO HISTÓRICO PARA A RENAULT


Por Fernando Raphael Ferro de Lima.
Fundada em 25 de fevereiro de 1899, a Renault tem uma história um pouco mais recente no Brasil. Durante décadas a empresa hesitou em apostar no mercado brasileiro, fazendo escolhas que hoje, à luz da história, nos parecem até mesmo equivocadas. A primeira aventura internacional da Renault, lembrando que é uma empresa francesa, ocorreu ainda na década de 1920, quando exportava para os EUA e a Inglaterra.
Gordini
No Brasil, os veículos Renault chegaram pela primeira vez via Willys Overland, empresa americana que se instalou no Brasil em 26 de agosto de 1952. A Willys produziu icônicos modelos das Renault, como o Interlagos (versão do Alpine 108, Daphine/Gordine. Com a falência da Willys em 1967, e sua aquisição pela Ford, o derradeiro projeto Renault foi concluído pela fabricante americana e foi lançado com o nome Corcel. Esta família continuaria em linha até a década de 1990, com a descontinuação da fabricação da pick-up pequena Ford Pampa, mas os motores de origem Renault, conhecidos como AE e Endura, foram feitos até 1999.
Willys Interlagos
 A empresa viria oficialmente ao Brasil apenas em 1992, coma importação do Renault 21, logo após a abertura das importações realizadas pelo presidente Fernando Collor de Mello. E em 1996, foi uma das primeiras a apostar no novo ciclo de investimentos na indústria automobilística brasileira participando do NRA, com o grande complexo industrial nomeado Ayrton Senna na cidade de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

Quando começou a fabricar no Brasil, em 1998, os modelos Mégane e Scénic, a Renault já era bem conhecida por conta sobretudo do Twingo, Renault 19 e Clio. Mas a marca enfrentou problemas de adaptação ao mercado brasileiro em seu início. Primeiramente, porque no Brasil, ao contrário do que ocorre em qualquer lugar do mundo, vender carros é uma atividade cartorária, regulada pela ultrapassada “Lei Ferrari”. E o relacionamento da Renault com os concessionários foi controverso, no princípio. Isso dificultou a expansão da rede Renault, que ainda hoje é pequena na comparação com a das chamadas “quatro grandes”, GM, VW, Ford e Fiat. Segundo ponto foi a logística. Ao se recursar a participar do cartel do frete, a Renault bancou uma rede própria de distribuição de seus produtos e de movimentação entre os fornecedores, limitando o ritmo da sua expansão dentro do país.
Por fim, a estratégia de produtos: a Renault criou o segmento de monovolumes no país com o Scénic, juntamente com o Picasso da Citroen e o Classe A da Mercedes; tentou emplacar o conceito de popular prêmium com o Clio, oferecendo air-bags de série; introduziu os MPV’s, na forma do Renault Kangoo; mas só achou o caminho das pedras no país com o lançamento do Sandero, em 2007, quando ofertou um carro bom, relativamente bonito e barato, já contando com uma rede relativamente grande e a confiança do consumidor. A família romena derivada do Logan, foi a grande responsável pelo crescimento da marca no país.
Ainda assim a concorrência foi brutal. Enquanto a Renault apanhava para a tentar compreender os gostos do brasileiro e a cabeça dos empresários que vendem seus carros, outras empresas subiram e tomaram um posto que deveria ser seu há tempos; a coreana Hyundai foi a mais ousada, e após o lançamento do HB20, fabricado no Brasil e do SUV Tucson, angariou inclusive a posição da Ford no mercado nacional, que teve que se reinventar.
A Toyota, outra empresa sempre desconfiada com o Brasil, também manteve-se discreta, mas após o lançamento do Etios chegou a beliscar os calcanhares da Renault e da Ford. O grupo PSA, seus patrícios, fizeram igualmente vultuosos investimentos para crescer no país, com lançamentos alinhados ao mercado europeu. E a Honda também conseguiu conquistar um lugar cativo no coração dos brasileiros.
Mas setembro de 2017 é o mês que marca a chegada da Renault ao clube das 4 grandes. Ultrapassou a coreana Hyundai, deixou a Ford para trás e ocupou uma posição de honra ao lado da Fiat, VW e GM. A razão desse prodígio pode ser explicada por um produto: Renault Kwid e sua excepcional campanha de marketing. No primeiro mês de vendas cheias o carrinho chegou ao 2º lugar do ranking nacional, atrás apenas do líder Chevrolet Onix.
Mas isso conta só parte da história: se olharmos a movimentação do grupo Renault-Nissan, veremos que sua posição é ainda mais importante no país. O Grupo Renault-Nissan atingiu em setembro a terceira posição de vendas no Brasil: foram 28.199 veículos ou 14,58% do mercado nacional. À sua frente GM com 35.248 (18,22%) e FCA, com 32.585 (16,84%). Atrás o grupo VW/Audi, com 24.091 (12,45%), Ford (18.919), Hyundai (16.912), Toyota (15.239) e Honda (9.676). Os demais ficaram com participações inferiores a 5% do mercado.
Captur
Críticos podem dizer que o sucesso deve-se a um único produto; cerca de 10 mil unidades foram Kwids; mas a Chevrolet vendeu cerca de 17 mil Onix, mais da metade de seu total; a Ford depende basicamente das vendas do Ka, assim como Hyundai do HB20; o mesmo pode-se dizer da Toyota, com seu imbatível Corolla. Dentro do Grupo Renault-Nissan, contudo, vários modelos têm se destacado: Nissan Kicks (no segmento dos SUV); Duster, Logan e Sandero, o recém lançado Captur, da Renault, apesar de não ter emplacado em vendas é reconhecido como um dos mais bonitos do segmento; a picape médio-pequena Duster Oroch; o bem conceituado sedan Sentra; a igualmente atraente família Versa/March.
Duster Oroch
Além disso, a Nissan, enquanto marca, conta ainda com uma carta na manga; a partir de janeiro de 2018 acabam-se as restrições as importações do México, o que permitirá trazer um número maior de Sentras para incomodar a Honda e a Toyota no segmento de sedans médios. Assim, atualmente, o Grupo Renault-Nissan é certamente um dos melhor posicionados para crescer no cenário brasileiro atual.

Kwid
A chegada do Kwid é fruto de uma estratégia de longo prazo, com muitos erros pelo caminho, mas também resultado de uma empresa que soube se preparar para o crescimento do mercado Brasileiro, por mais incerto que ele possa parecer. Em minha opinião, a única coisa que a Renault poderia ainda fazer para tornar sua linha mais atraente, é lançar uma versão diesel com caixa 4x4 reduzida do Duster, oferecendo tanto para este pequeno e valente SUV como para a pick-up Oroch uma alternativa de motorização e tração que certamente faria fãs em todo o Brasil, sobretudo se os preços fossem competitivos em relação as ofertas existentes.

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