COISAS QUE NINGUÉM CONTA NA AUTOESCOLA.
Por Fernando Raphael
Ferro
Falar de acidentes de carros ainda é um tabu no Brasil,
em que pese o fato desta ser a segunda ou terceira maior causa de óbito no país.
Nossas estradas são extremamente perigosas, mas a grande parte dos motoristas irá
reagir de forma absolutamente instintiva em caso de um acidente, contanto com a
sorte e a segurança passiva dos automóveis para sair viva de uma colisão.
Obviamente, os conselhos mais comuns e sensatos são aqueles
relacionados a evitar situações de risco que possam levar a acidentes. Por
exemplo: respeitar limites de velocidade, obedecer à sinalização, manter uma
postura atenta e defensiva em relação aos demais motoristas são comportamentos
que sempre ajudam a evitar acidentes, sobretudo os fatais.
No entanto, há algumas questões que eu imagino que devem
ser conhecidas por todos, e nem sempre são, para que ajudem tomar decisões quando
o acidente é inevitável. Sabe-se, por exemplo, que as colisões mais fatais são as
colisões frontais, pelo número de ocorrências. Isso ocorre, obviamente, pela
energia envolvida na colisão.
O que pouca gente sabe é
que uma batida de frente que envolva toda a frente do carro no acidente é mais
segura do que bater apenas uma parte da frente. Na verdade, quando menor a
parcela da frente do carro envolvida na colisão, maiores serão os danos
potenciais aos passageiros. Isso ocorre porque os carros são desenhados para
absorver a energia do impacto frontal. O EuroNcap e o LatinNcap adotam em suas
metodologias de análise o impacto frontal de 1/4 da frente do carro contra um
objeto imóvel, de modo a simular a tentativa do motorista de evitar o impacto
direto.
No caso do IIHS (instituto
americano que cuida dos crash test), foi recentemente adotado um padrão
mais rigoroso, em que o teste e feito com uma área muito menor da frente, cerca
de 1/8 da área da frente. Os resultados mostram que grande parte dos carros
avaliados com 5 estrelas na metodologia anterior tem a proteção reduzida
drasticamente nesta nova metodologia. A razão é que com uma área de impacto
menor, a estrutura prevista para captar a deformação não é afetada, e com isso,
o impacto é transmitido diretamente para a célula de sobrevivência. O volante
se desloca do local, e o airbag perde a função, levando o motorista a bater a cabeça
contra o as partes sólidas do veículo, ocasionando ferimentos potencialmente
fatais. Por isso, na maior parte dos casos, uma batida direta será melhor
absorvida pelos veículos do que uma batida numa área menor, que inclusive irá
comprometer a atuação do airbag e sinto de segurança.
Outra questão pouco
abordada é que um dos piores lugares para se bater o carro é a traseira de um caminhão
ou ônibus. O risco de decapitação dos ocupantes do veículo é altíssimo. A
estrutura dos automóveis foi feita para absorver impactos na altura dos
para-choques. A região do para-brisa serve para gaiola para evitar a deformação
vertical em caso de capotamentos, mas não irá segurar um impacto mesmo em
velocidades baixas como 50 km/h em objetos fixos como a traseira de um caminhão
ou ônibus. Assim, deve-se evitar ao máximo andar próximo a caminhões, ou entre
dois deles, para evitar engavetamentos que podem ser fatais. E no caso de um
acidente do tipo a vista, e melhor se arriscar a uma colisão frontal que a uma decapitação
certeira. Ou ainda buscar levar o carro para o acostamento, ainda que isso
possa custar um capotamento, que é mais seguro que este tipo de colisão.
Como eu disse no início
do texto, estamos falando em situações de tudo ou nada. Como naqueles programas
infantis, não tentem isso em casa sem a supervisão de um adulto. Para
finalizar, vou comentar a colisão contra objetos fixos. Após a colisão contra a
traseira de ônibus e caminhões, a pior forma de colisão é contra postes e
arvores de grande porte. A lógica é a mesma da colisão frontal de pequena área:
uma pequena área da estrutura do veículo terá que absorver todo o impacto. Assim,
entre colidir contra uma árvore, poste ou muro, escolhe o terceiro. O carro terá
mais área para sofrer o impacto. Aliás, e melhor colidir com outro carro na direção
oposta do que com um muro, árvore ou poste.
No blog há uma seleção de
vídeos de crash test, mostrando o
comportamento de diversos automóveis e utilitários. Serve para ilustrar o que
foi dito aqui. Mostra também o quanto os automóveis antigos eram frágeis,
apesar de sua aparência robusta. Ilustra ainda o quanto vale investir numa mudança
de geração, como é o caso do Golf V em relação ao Jetta. O Jetta é baseado no Golf
IV, assim como o New Beatle, ou Fusca. Tanto um quanto o outro, tem o volante
deslocando no teste do IIHS, levando dummie
a bater a cabeça na coluna da porta e não no airbag. Já o Golf V tem a
estrutura preservada, e o dummie passa
ileso pelo teste. As sequências de testes mostram ainda que carros grandes nem
sempre são bem avaliados, porque suas estruturas podem se frágeis, e carros
pequenos podem ser seguros. Questão de engenharia.
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