AVENTURAS COM UMA 125
Por Fernando R. Ferro
Eu
comprei minha primeira moto em 2007, já com 25 anos de vida, apesar de ter
aprendido a pilotar muito antes, aos 14 anos. Mas foi somente aos 25 que tive
coragem de tirar carteira de moto e encarar as duas rodas como forma de
locomoção. Foi uma espécie de libertação pessoal, reconheço hoje. Uma vez
picado pela mosca da liberdade, ficou cada vez mais difícil ficar sem moto. No
mesmo ano, em agosto de 2007, comprei um Honda Falcon 0km, contrariando o
conselho de especialistas, como minha primeira moto.
Inicialmente,
tudo eram maravilhas. Fiz minhas primeiras viagens e passei a realizar os
deslocamentos urbanos diários com a Falcon. Mas então, um ano e meio depois, me
vi na necessidade de vendê-la, para fazer frente a outras despesas do orçamento
familiar. Fiquei assim alguns meses sem moto.
Neste
ínterim, apareceu a possibilidade de utilizar uma CG 150 de meu pai, porque ele
não podia, na época, pagar as prestações da pequena. A princípio, a decepção
era grande: sair de uma Falcon para um diminuta CG parecia muito ruim. Mas eis
a grande surpresa: a transição não era tão difícil assim. Rodei bons oito
meses, até que meu velho se recuperou e pediu a motoca de volta. Nisso, juntei
forças e dinheiro para adquirir uma Fazer, cuja relação já relatei em outro texto. A Fazer virou, mais
tarde, uma HD 883,
que após um ano de uso intenso, me levou a pensar numa segunda moto de uso
diário. Começou aí meu retorno à CG.
Um dia,
na casa de meu pai, vi uma velha CG 125 encostada, empoeirada, meio abandonada,
claramente sem uso. Aí me ocorreu a ideia de deixar minha HD voltada apenas
para o uso nos fins de semana e usar a 125 para o dia a dia na cidade. Parecia
uma ideia brilhante sob todos os aspectos: eu economizaria com combustível e
manutenção, não desgastaria minha Harley, e ainda por cima andaria na cidade
com um veículo mais voltado ao dia a dia. Depois de um tempo de negociação,
finalmente comprei a CG do meu pai, e mandei-a para uma revisão completa.
Começou aí a odisseia com a CG.
Foi
necessário, de cara, uma troca de bateria, vela, cabo de vela, cubos de roda,
aros, e do parafuso de fixação da balança traseira. Também foi trocada a capa
do banco, o óleo do motor e feita a regulagem, os dois pneus e feita a limpeza
e regularem do carburador. Percebi também que os espelhos instalados eram do
tipo plano, e os troquei pelo tipo convexo, além de trocar o guidão
convencional por um mais baixo. A moto parecia perfeita, pronta para rodar
milhares de quilômetros felizes.
Rodei
com ela cerca de 4 meses, até ter um problema no miolo da chave que me deixou
na mão por volta das dez da noite, debaixo de chuva, numa quarta-feira a meio
caminho entre minha casa e a faculdade. Depois deste dia, levei uns dois meses
para consertá-la, período no qual acabei trocando a HD por uma Kawasaki Er-6n.
No
começo de 2014 troquei a Kawasaki, depois de apenas 6 meses, por carro, um Fox,
tendo em vista a necessidade de transportar meu filho pequeno para a escola,
ficando a CG meio esquecida na garagem. No meio do caminho entre janeiro de
2014 e 2015, ela, mais ou menos como um cachorro mal criado, ainda me deu mais dois
problemas: arrebentou o suporte que segura o cabo do acelerador, o qual eu
mesmo troquei. Contudo, no momento da montagem, eu acabei invertendo a posição
e colocando o acelerador ao contrário (para frente acelerava ao invés de para
trás). Além disso, apareceu um vazamento de óleo entre o bloco do motor e o
cabeçote, o que indica que a junta deve estar indo para as cucuias. Para
terminar, quando eu decidi utilizá-la numa manhã para ir ao trabalho, o pneu
dianteiro furou, me obrigando a retornar para casa.
Ainda
assim, no começo de janeiro de 2015, resolvi resolver estas pendências e
consumir a gasolina que já estava meio velha no tanque. Aproveitei o fato de
que tinha que levar um gato na casa de um amigo a mais ou menos uns 80 km de
distância e coloquei a motinha na estrada. Óleo trocado, pneu consertado, gato
amarrado e pau na máquina. A ida foi uma maravilha. Pelo fato de não andar de
moto há mais de um ano, nem senti falta da potência da Kawasaki. O vento no
rosto era mais que suficiente para me garantir o sorriso constante. No mais, a
única coisa que eu escutava era o motor e, eventualmente, um miado do gato.
É necessário avisar, para compreensão melhor
da história, que o local onde fui levar o gato era Tijucas do Sul, uma cidade
relativamente próxima de Curitiba, mas distante cerca de 80 km da capital. Além
de um trecho em rodovia (BR-376), para chegar a casa do meu amigo percorre-se
ainda um trecho de 15 km em estrada de terra.
Na volta
as coisas complicaram. Acho que motivado pela maldição do gato preto, que quis
se vingar da “carona” em duas rodas, pequenos problemas voltaram a ocorrer.
Primeiramente, o cabo do acelerador arrebentou. Por sorte, poucos minutos
depois outro motoqueiro passou na estrada, e me emprestou uma chave de fenda,
com a qual acelerei a marcha lenta o máximo possível e pude seguir até uma loja
de auto-peças, a uns 14 quilômetros distantes.
Na loja,
o dono do local foi gentil, e quebrou a própria regra de não aceitar cheques,
porque ele não tinha máquina de cartão e eu não tinha dinheiro. Mas ao começar
o serviço, visto que além de vender a peça ele também sabia trocá-la, começou
uma tempestade torrencial.
Normalmente
estas chuvas de verão duram de 20 a 30 minutos. Naquele dia, porém, movidas
pela maldição do gato preto, as nuvens mandaram água do céu durante mais
de uma hora e meia de modo torrencial.
Quando a chuva diminuiu, o dono da loja e seu filho concluíram o serviço e eu
segui viagem debaixo de chuva mesmo. Desnecessário dizer, a esta altura, que eu
não havia levado capa de chuva.
Para
ajudar, com menos de 5 minutos de estrada eu já estava dentro da nuvem sob a
qual chovia torrencialmente. Ao entrar na BR-376, eu tinha duas opções: fechava
a viseira e nada via, ou abria a viseira e tomava verdadeiras pedradas no
rosto. Assim, vendo pouco mais de duas luzes vermelhas na minha frente, fui
seguindo-as até um posto de combustível. Ali, percebi que a moto já estava
chegando na reserva, e resolvi abastecer, tomar uma coca-cola e aguarda a chuva
diminuir. No caminho entre a geladeira e o caixa, quase caí. Mas ficou no
quase. Naquele momento, acho que a maldição do gato preto passou.
A chuva
ficou para trás, o céu começou a clarear. Tomei a coca, paguei, montei na CG e
vim para Curitiba. A moto parecia outra. O acelerador ficou suave, e ela
respondeu muito melhor. Pude andar acima dos 100 km/h (marcação do painel), e
cheguei em Curitiba praticamente seco, por causa do vento. Desta forma, apesar
de uma viagem que tinha tudo para ser desastrosa, ainda cheguei em casa com um
grande sorriso no rosto, feliz por ter passado uma tarde andando de moto.
A culpa
dos problemas mecânicos, obviamente, não é da CGzinha; não direi, tampouco somente
minha. O tempo é o grande vilão. Ao passar, as peças envelhecem e após longo
tempo sem uso ninguém dá conta de consertar tudo o que estraga. No fundo, não
rodar é um inimigo maior das motos que o uso diário. Por isso, as aventuras e
desventuras que venho tendo com minha pequena CG são capítulos, prenúncios de
uma aventura maior.
Pretendo, num futuro próximo, empreender um
grande reforma nela. Vou mudar sua aparência para deixa-la menos utilitária:
quero transformá-la numa mini café racer. Um cafezinho expresso, digamos assim.
Vou retirar partes da carenagem, modificar o assento, trocar o tanque e fazer
uma pintura em dois tons. Colocar um guidão mais baixo ainda, e uma bengala
dianteira que permita freios a disco. Vou repintar o quadro também, em preto
(brilhante ou fosco), e o motor (provavelmente preto fosco). Trocar o sistema
de admissão para adaptá-lo a um filtro esportivo e o colocar um escape menos
restritivo. Por fim, vou alterar as rodas.
Minha meta, depois disso, é realizar uma
retífica leve no motor, trocando o que for necessário. Acabar com os vazamentos.
Deixá-lo em perfeito estado mecânico para encarar algumas viagens tranquilas de
fim de semana. Caso possível, até mesmo algo mais distante. No fundo, não
precisamos mais do que 100 km/h de velocidade nas estradas. Qualquer coisa além
disso é exagero. As 125 garantem que nos mantenhamos em velocidades seguras
quase sempre e que não abusemos demais nas curvas. Quando eu estiver com minha
pequena “mosquita” em ordem, vou leva-la para desbravar o mundo.
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