QUERO SER PILOTO
Por Fernando Raphael Ferro
A indignação de muitos ocorre porque em alguns
esportes o início da profissionalização ocorre muito cedo, e o background familiar importa muito. O
automobilismo, assim como o tênis, é um destes esportes. Pilotos profissionais
de hoje começaram a correr entre os três e cinco anos de idade. Dificilmente
depois da puberdade. A razão em geral é a necessidade de aprimoramento dos
reflexos. Isso não quer dizer que um garoto de 12 ou 13 anos não possa se
desenvolver a contento. Mas dificilmente isso ocorre no tempo necessário para
que patrocinadores se tornem dispostos a apoiá-los.
Acompanhando o canal do youtube Acelerados, na seção de comentários, me
depare com um garoto que fez a seguinte pergunta:
“tenho 13
anos o que eu preciso para entrar para o mundo automobilístico? (SER PILOTO)”
Eu, com toda a delicadeza que me peculiar, lhe
dei a seguinte resposta:
“Se você tem 13 anos e não sabe como, sinto,
amiginho, mas sua época já passou! Você pode ainda fazer um curso de mecânico,
ou quem sabe aprender a agitar as bandeiras. Ou virar piloto de arrancada!”
Alguns dos que habituès do canal ficaram levemente indignados comigo, por estar “destruindo”
o sonho do garoto. Mas a questão toda é a seguinte: se um menino de 13 anos
chegar pra alguém e disser: nossa, vi um concerto hoje e decidi que meu sonho é
ser pianista na filarmônica de Berlim, mas não tenho ideia de como começar. O
que você diria? Corra atrás de seus sonhos?
Se até os 13 anos ele nunca tocou piano na
vida, não será começando ali que vai se tornar um pianista a altura das maiores
orquestras do mundo. Talvez vire tecladista de uma banda de sucesso, mas
dificilmente irá se tornar membro de uma grande orquestra. Mas quer saber? Se o
garoto tiver talento musical, a filarmônica de Berlim ainda estará mais próxima
dele que um bólido de corrida profissional, por uma simples razão: estudar
piano vai depender, basicamente, do talento e força de vontade dele próprio.
Nem um piano próprio ele precisa ter.
Ser um piloto profissional depende, no mínimo,
de se ter um carro, e mesmo um kart básico custa muito dinheiro de se adquirir
e manter, fora aluguel de pista, macacão, mecânico, combustível, viagem,
hospedagem, translado etc. Além disso, não basta ter um kart qualquer. Para
vencer competições e se destacar, será necessário ter um carro competitivo.
Então, meus caros, o único conselho sensato que importa para o garoto é estude,
arrume uma profissão decente, ganhe dinheiro e você poderá se tornar um feliz e
realizado piloto amador, correndo por diversão, não por profissão.

Alguns do fórum ficaram indignados com minha
postura. Outros, com a crueza dos fatos e a realidade social. Mas, infelizmente,
a sociedade existe a mais tempo que todos nós e estas as coisas funcionam deste
modo. Como eu já disse, não se trata que querer acabar com o sonho do garoto.
Bruno Senna começou a correr aos 13 anos e chegou na Fórmula 1, mas não sei se
podemos dizer que foi exatamente uma carreira de sucesso, apesar do sobrenome e
de todo o dinheiro que ele dispunha. O comentário geral é que ele começou muito
tarde. Na maioria dos esportes é assim que funciona: o grandes talentos
despontam muito cedo, normalmente antes da puberdade.
Por fim, outro garoto comentou o seguinte:
“Odeio isso .-. mas ta certo Raphael. Mas antes de morrer ainda vou ser
piloto, nem que seja de carrinho de supermercado turbinado kkkkkk”
Como eu disse, felizmente, para a maioria de
nós, ser piloto amador é uma alternativa plenamente viável. Eu mesmo durante um
ano, fui piloto na Copa Pinhais de Kart Amador. Mesmo sendo um piloto muito
grande e pesado para o veículo, pude me divertir bastante e não terminei o ano
em último, o que fez muito bem para meu ego. Senti-me realmente privilegiado
por disputar curvas com caras tão fanáticos por velocidade quanto eu durante
aqueles dois semestres. Aprendi muitas coisas sobre técnicas de pilotagem em
chuva, chuvisco, tempo seco, pista suja, que inclusive me auxiliam até hoje.
Espero um dia que criem uma Copa de carros de
turismo com um custo que seja acessível até para pessoas relativamente pobres
como eu. Um dos meus sonhos pilotar na categoria turismo. De preferência num
categoria de baixa potência, com carros relativamente originais, para não
gastar muito dinheiro, ter vários pilotos como companheiros de pista e muita disputa.
Automobilismo, afinal de contas é um esporte. Vencer é importante, mas competir
é o mais legal. Alguns se tornarão profissionais, aparecerão na TV e farão a
alegria da torcida nos fins de semana. Mas a maioria será sempre compostas de “peladeiros”,
amantes do esporte fora de forma, que passam por aqui só pela paixão e
diversão. Afinal, amador é aquele que ama o que faz.
Por isso, se algum dia este garoto for pilotar
carrinho de supermercado turbinado, e
tiver uma vaga para eu competir com ele, talvez eu me inscreva também.
Competições em quatro rodas sempre me atraíram, e mesmo não sendo profissional,
se elas couberem no meu bolso, vou tentar participar.
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